sábado, 19 de abril de 2008

A Minha Maratona - PO

Quando participo numa prova, normalmente, tenho um de dois objectivos: bater o meu record pessoal ou, simplesmente, participar na prova.
Da avaliação que fiz (em Dezembro) da minha condição física, da disponibilidade que iria ter nos próximos meses e a falta de disciplina que, normalmente, revelo, achei que um objectivo realista seria terminar a prova.
Dos longões que realizei tinha indicações claras que o meu "muro" não iria acontecer aos 30/35 Kms, mas bem mais cedo, aos 20/25 Kms. A estratégia era aguentar o ritmo do carlos ou do nuno o mais tempo possível, porque sozinho iria ser mais complicado. Estava mentalmente preparado para correr os últimos 15 Kms sozinho, mas num ritmo que me fosse confortável.

A prova correu muito melhor do que eu esperava. Talvez tenha sido um daqueles dias.
Durante as primeiras milhas o ritmo foi lento. Procurei não falar muito para não me desgastar.
Adiei a ingestão de líquidos até ao máximo que achei conveniente, pois na prova dos sinos quando bebi água fiquei com "dor de burro". Assim, só dei um pequeno gole de água por volta dos 15 Kms. Aguentei mais 2 milhas antes de dar um segundo gole. O Carlos sempre que bebia água, oferecia-me um pouco e dizia-me para eu beber, mas lembro-me de lhe dizer "quando me vires a beber muita água é sinal que estou todo roto".

Um pouco antes dos 10 Kms parei para libertar líquidos. Na recuperação para apanhar o Carlos encontrei o Nuno, que já tinha perdido a esperança de ver durante a prova. Disse-lhe que estávamos 100 metros à sua frente, encostados à direita. Quando arranquei, pensei que ele iria atrás de mim, mas nada feito. O Nuno manteve o seu ritmo.
Comentei com o Carlos (várias vezes) que ninguém chamava pelo meu nick name (Buddha). Que até era irritante, porque estavam sempre a chamar um gajo chamado "peter" que vinha mesmo atrás de mim. Aos 15 Kms ainda só me tinham chamado uma única vez. Será que não ia bater o record da meia-maratona de Lisboa em gritaram o meu nome 2 vezes!!
O Carlos trocou de posição e deixou-me ir enconstado à estrada, talvez aumentasse a possibilidade, mas ainda era pior, agora chamavam o carlos e a mim nada! E assim fomos correndo descontraídamente até aos 20 Kms.

Aos 20 Kms abri a embalagem do gel e fui dando pequenos goles até aos 30 Kms. O Nuno apareceu e eu pensei "agora é que o carlos vai acelerar porque o Nuno vem embalado".
Por volta da meia-maratona começa a chover, ao início soube bem, mas a intensidade da chuva foi aumentando e vento começou a ficar mais forte e frio. As sapatilhas, a camisola e o chapéu iam complemente molhados. Pensei "quando ficar com os calções molhados não vai ser nada agradável e ainda falta metade da prova, que m...".
A minha camisola começava a ficar pesada e como colava ao corpo aumentava a fricção nos mamilos. Felizmente que a organização providência vaselina. (ainda não tinha percebido a utilidade do pessoal com luvas azuis).
Entretanto, a chuva parou, a camisola secou e pensei "vou mesmo bem. Nem vou a respirar pela boca".

À medida que faltavam menos milhas, sentia que iamos perdendo gás. Na 1ª milha, o carlos tinha-me dito que ao tempo apresentado em cada milha tinhamos de descontar 1:22, para obtermos o nosso tempo de chip. E como levava a pulseira 3:25:00 ia fazendo as contas.
O tempo previsto aproximava-se perigosamente das 3:30:59. (passavam 4 a 5 minutos sobre i tempo da pulseira) E se ultrapassassemos esse tempo, o carlos não iria conseguir o apuramento para Boston. Esta era a grande oportunidade: o tempo estava fresco, o carlos não sentia nenhuma dor muscular, eu estava fresco e era uma questão de aguentarmos o ritmo e nas últimas 3 milhas dar o máximo.
O objectivo passou a ser terminar antes das 3h31m e comecei a massacrar o carlos com frases como:
"Eu vim a Londres para fazer 3:30 não foi 3:31, mexe-me esse cú", "Não me vais obrigar a ir a Berlin ajudar-te a apurar para Boston", "Nem penses em morrer na praia", etc. Cheguei a puxar-lhe a camisola para que ele se despachasse. No penúltimo abastecimento, fui buscar-lhe uma bebida e cheguei a correr com ela à frente dos olhos dele, para ver se ele aumentava o ritmo. Faltava pouco mais de uma milha, sentia o carlos cada vez mais cansado, dizia-lhe para se colar a mim, mas passados 5 segundos já ficava para trás. Já não sabia o que fazer... também já não sabia se ainda iamos chegar a tempo...
Ao vermos o último abastecimento...viro-me para o carlos e digo-lhe "Nem penses. Acabou-se a água! Bebes água no fim!". Um pouco cruel..
Faltam 800 metros e o carlos não acelera...não vamos conseguir...faltam 400 metros e o carlos não acelera. Entrada na recta final...o relógio marca 3:33:... eu penso "não acredito, não conseguimos". O carlos faz um esforço final e acabamos. Pergunto-lhe o tempo e ele diz "dentro das 3:30".

1 comentário:

Pedro Teixeira disse...

Fica por esclarecer a razão da escolha do nick name...?

Tenho para mim que as pessoas não responderam tanto ao nome por respeito ou reserva para com o nome em si e o que ele simboliza e talvez pela causa do Tibete, muito "quente"... Será?